Este artigo foi originalmente publicado em O GLOBO
Publicado em 08/12/2010 às 17h47m
Está na moda falar de sustentabilidade. Ambientalistas preocupados com as futuras gerações dizem que corremos sério risco de extinguir os recursos naturais, por conta do nosso "consumismo desmesurado". Alguns paranoicos já instituíram até mesmo um "Dia Sem Consumo", que acontece todo ano, no último sábado do mês de novembro. Outros, mais radicais, propõem a destruição coletiva dos cartões de crédito como forma de catarse.
Embora a teoria da insustentabilidade tenha lá seu sopro de lógica, ela está muito longe da realidade. O economista George Reisman refuta categoricamente a tese em seu livro "Capitalism", concluindo que, de fato, o mundo nunca esteve tão abarrotado de recursos naturais como agora, malgrado o crescimento exponencial do consumo humano nos últimos duzentos anos. Parece um paradoxo? Vejamos.
A massa da Terra é feita de elementos químicos. Seu núcleo, por exemplo, é formado basicamente de milhões de metros cúbicos de ferro e níquel. Os oceanos e a atmosfera são compostos de incalculáveis quantidades de oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e carbono, além de menores quantidades de outros elementos, cada um trazendo consigo inúmeras utilidades, algumas já conhecidas e outras que a ciência irá algum dia descobrir. O petróleo, para começar pelo exemplo mais óbvio, está sob os nossos pés há milhões de anos, mas seu aproveitamento econômico teve início somente durante a segunda metade do Século XIX. O alumínio, o rádio e o urânio, por seu turno, só tiveram serventia ao ser humano de cem anos para cá. Já o emprego industrial das fibras de carbono e do silício aconteceu apenas nas últimas décadas.
O problema não é de escassez intrínseca. Tecnicamente a oferta de recursos pode ser descrita como finita, mas, para todos os efeitos práticos, é infinita, não constituindo qualquer obstáculo para a atividade econômica. O que precisamos é conhecer que diferentes elementos e combinações de elementos nos são úteis, chegar até eles e empregá-los para a satisfação das nossas necessidades. Em resumo, os únicos limites efetivos para a obtenção das substâncias economicamente utilizáveis são o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a quantidade e qualidade dos equipamentos (capital) disponíveis para esse fim.
A sustentabilidade está vinculada não só ao descobrimento de utilidades para elementos que previamente não possuíam qualquer aplicação prática, ou de novas serventias para aqueles que já possuíam usos conhecidos. Ela se dá também, senão principalmente, pelos avanços que facilitam o nosso acesso a estes elementos - por exemplo, escavando minas e poços mais profundos (vide o petróleo do pré-sal), movendo maiores massas de terra com menos esforço, decompondo compostos que antes pareciam imprestáveis, alcançando regiões da terra previamente inacessíveis ou facilitando o acesso a regiões inóspitas. Graças a tais progressos, a quantidade de recursos naturais economicamente aproveitáveis é, hoje em dia, incomparavelmente maior do que era no início da Revolução Industrial.
Praticamente não existem limites para os avanços futuros. O hidrogênio, elemento mais abundante na natureza, pode converter-se, brevemente, em fonte de energia economicamente viável e limpa. Além disso, a energia atômica, os raios laser e os sistemas de detecção por satélites, entre outras tecnologias de ponta, abrem novas e ilimitadas possibilidades de incrementar a oferta de recursos naturais. O que precisamos é descobrir como utilizá-los, reduzir os custos de sua extração e evitar ao máximo agredir o meio ambiente em volta.
Entretanto, se por um lado a natureza coloca à nossa disposição um volume utilizável de matéria e energia que, para todos os efeitos práticos, pode ser considerado infinito, por outro ela disponibiliza pouquíssimos desses elementos na forma de riqueza. O que transforma em bem de uso a maior parte daquilo que a natureza oferece são o trabalho e a inteligência humanos.
A solução, portanto, não está em restringir o consumo, mas em motivar as pessoas para o trabalho e o desenvolvimento tecnológico, algo só possível em sociedades onde prevalecem a liberdade econômica e, fundamentalmente, o direito de propriedade. Tudo de que precisamos é mais capitalismo, único modelo em que as pessoas criativas, engenhosas e diligentes tendem a dedicar-se com afinco à ciência, à pesquisa e aos negócios, pois sabem que o resultado de seus esforços e investimentos reverterá em seu próprio benefício.
JOÃO LUIZ MAUAD é administrador de empresas.
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