quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Advogadas dos Diabos




Nós do DominioFeminino não somos suscetíveis a arroubos de ufanismos e, deve ser estranho ver que isso venha de mulheres tão banhadas de hormônios conforme a bondade de Deus através da Natureza feminina. Deu-nos a Natureza Divina melhores aplicações para o uso dos nossos hormônios e em horas apropriadas, mas não por nosso controle.

Isto posto, seria razoável observar que, a Razão não é atributo do sexo masculino. Em política não se faz nada bem feito sem seguir um mínimo do uso da Razão e deixar de lado a emoção bem utilizadas e banalizadas pelas Esquerdas solidárias.

O espírito crítico constrói muito mais do que os aplausos fáceis e bajuladores. Criticar o inimigo é dar-lhe tempo para refazer suas estratégias. Ao criticar os iguais, os próximos, aqueles a quem amamos ou admiramos ou deles necessitamos urdimos formas de aperfeiçoar o pensamento, a ação, a atitude e, muito mais importante, estimulamos a capacidade de todos, para se aterem mais próximos ao que é verdadeiro do plano da Razão.

Nada constrói mais do que o espírito de porco do advogado do diabo. A ele cabe a pior missão que é está sempre levantando planos A, B, C, D, ou o que seja necessário para a sustentação do que é proposto e defendido por outros. Levantar o que ainda não foi visto ou reconhecido. Provocar, cutucar, instigar, irritar são maneiras que se tem de fazer com que se possa ir além do que não foi pensado e não seja pego em calças curtas. 

E para quem não sabe, dentro de empresas organizadas, estas pessoas valem ouro e são remuneradas para exercer a função. Também a psicanálise trabalha nesta direção. Ter alguém ao seu lado que olhe em direção a todos os ângulos e perceba o que você não viu é de imensa colaboração.

Porém, a função remunerada é gratificante, é reconhecida, é simpática, é valorizada.  Em outros  ambientes, o advogado do diabo é visto só como aquela pessoa que gosta de ser ranzinza e, consequentemente,  antipática. É o calo no calcanhar. Mas, DominioFeminino não se intimida com adjetivos de baixa rentabilidade que lhe sejam atribuído. E, para isso é preciso ter coragem. Nós temos. Essa é a nossa função suja, que ninguém deseja desempenhar porque não rende elogios.  Não há rosas sem espinhos, nem por decreto.

É isso que chamam chutar o pau da barraca, chutar o balde.

DominioFeminino não faz gênero. Não quer fazer gênero boazinhas, porque isso não é da natureza do nosso caráter, tão pouco daqui sairá candidata a cargo eleitoral. Exemplo disso, está aí, logo abaixo, nossa análise básica, sobre os últimos acontecimentos.


Algo se move
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/09/11

Talvez o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, estivesse sendo otimista demais, ou talvez ingênuo, quando comparou as marchas ocorridas ontem em diversas cidades do país com as da Diretas Já, ou mesmo com os protestos que culminaram com o impeachment do então presidente Collor.

As manifestações das Diretas Já começaram tímidas, mas tomaram conta do país, as contra Collor tiveram seu auge naquele domingo em que ele convocou o povo a sair de branco às ruas para apoiá-lo, e o país foi tomado, espontaneamente, por marchas de pessoas vestidas de preto.

O insucesso das Diretas Já, pois o Congresso acabou não aprovando a medida, culminou no sucesso da candidatura de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, encerrando a fase de governos militares no país e abrindo caminho para que em 1989 fosse eleito o primeiro presidente da República de forma direta depois de 29 anos.

Justamente Collor, que acabaria impedido pelo Congresso sob acusação de corrupção.

E é a corrupção que novamente move a cidadania em manifestações convocadas pelas redes sociais, sem uma liderança específica.

A mobilização da opinião pública, feita em meio a uma turbulência de informações, num sistema midiático diversificado como o que temos no mundo moderno, independe de lideranças.

DominioFeminino — Página 4/O País, no mesmo Globo de hoje, dia 8, quinta feira, no Box: Nas redes como nas rua:

"Espero que os cara-pintadas aumentem cada vez mais! Na época do Collor vencemos. Por que não vencer agora? Avante!" Sol Mainente.

Verdade? Tanto tempo depois DominioFeminino descobre, desolado, pelo grande erro cometido. Então as esquerdas unidas que não foram vencidas não estavam naquele episódio.  Nem agora, concluímos em nossa total cegueira. Os caras-pintadas ( deve ser por vergonha de se expor )  não são uma reedição do filme que no final, revelou o grande astro  Lindemberg Faria. Não foi então, uma força montada pelo PT e todos os partidos de esquerda aliado ao alarnjado DEM. E nós não sabíamos!

Essa organização autônoma, sem um comando central, é o que dá "significados políticos" ao potencial da internet, segundo o sociólogo Manuel Castells, um dos maiores estudiosos das novas mídias e suas consequências no mundo moderno.

DominioFeminino — Sim, isto até parece com o TeaParty americano. Chega a ser comovente. Surpreende que nunca, anteriormente, na história destepaiz tenha ocorrido tal manifestação sem comandos.

Ele identifica essas manifestações, como as que aconteceram ontem no país, como um "processo de transformação estrutural" que está em curso no mundo, com múltiplas dimensões: tecnológica, econômica, cultural, institucional.

Segundo ele, "a crise de governança está relacionada com uma crise fundamental, de legitimidade política, caracterizada pelo distanciamento crescente entre cidadãos e seus representantes".

Mas Castells adverte, citando o pensador italiano Antonio Gramsci: "A sociedade civil é o espaço intermediário entre o Estado e os cidadãos, no qual as instituições do Estado e as organizações populares podem interagir, trocar e negociar interesses e valores, em uma forma de cogovernança."

DominioFeminino — Ao ponto: então Gramsci está enterrado nisso tudo até o pescoço. Peguei o espírito da coisa! SE gramscianos aprovam, então, o fio da meada não está no lugar que se pensa.

A sociedade civil, portanto, não seria "contra o Estado", mas "um canal para a transformação do Estado, a partir da pressão organizada da sociedade, sem limitar o processo democrático representativo a eleições e à política formal".

DominioFeminino — Esclarecedor. Então o movimento contra o Collor, esse atual e os vindouros já são prévias da co-governança gramsciana e não contaram para as pessoas tituladas de cidadãos.

Essa mobilização espontânea tem maior significado ainda porque, no caso brasileiro, além dos problemas comuns que afetam de modo semelhante sociedades em diversas partes do mundo, como o distanciamento entre representantes e representados, temos sistema político montado para esterilizar a atuação política a partir do controle dos partidos pelo governo através da distribuição de cargos e de métodos mais radicais, como o mensalão.

DominioFeminino — O singular nisto tudo, é que durante a crise do Mensalão, no governo estava o ex-presidente Inácio Lula da Silva, o intocável porque forte. Nesta brechinha de falsa fragilidade da atual presidente todos se tornam corajosos e desafiadores e ainda tem a ajuda de Gramsci.

O governo Lula neutralizou a ação congressual, montando uma enorme aliança política com partidos completamente distintos programaticamente, mas com um ponto em comum: nenhum deles dá mais valor ao programa do que aos benefícios que possa obter apoiando o governo da ocasião.

Ao mesmo tempo, o governo tratou de controlar os chamados "movimentos sociais" com verbas generosas e espaços de atuação política quase sempre neutros, popularmente conhecidos como "oposição a favor".

A política sindical é o melhor exemplo dessa neutralização dos eventuais adversários. A Força Sindical, de Paulo Pereira, deixou de disputar poder com a CUT, e juntas ampliaram o espaço de atuação sindical.

Um exemplo de manobra nesse sentido foi a inclusão das centrais sindicais na distribuição da verba do imposto sindical obrigatório.

Não é por acaso, mas como consequência dessa política de controle dos movimentos sociais e dos partidos políticos, que os protestos em Brasília e nas outras cidades contra a corrupção e a impunidade não contaram nem com o apoio da UNE nem da CUT nem do MST ou outras organizações chamadas não governamentais, mas que dependem basicamente das generosas verbas do governo para existirem.

DominioFeminino — Para recordar, no Impeachment do ex-presidente Collor todos estavam unidos em 'torno de um só ideal'. A adesão de todos foi imprescindível para a consecução dos objetivos. O fato de que sindicatos, MST e UNE não estarem ostensivamente apoiando, não significa que não haja acordo de gaveta e explica-se pelo fato de que o núcleo duro do PT não está do lado da Presidente, no máximo, estão tentando manipular. Eis porque muito se tem falado e escrito sobre o fogo amigo do PT.

A OAB lançou um manifesto conjunto com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), não por mera coincidência as mesmas entidades que deram suporte ao impeachment de Collor.

DominioFeminino — Essas convergências não deixam dúvidas de que há alguma coisa de muito podre no Reino do Bananal. O motivo: os interesses deles são totalmente diferentes dos interesses das pessoas enraivecidas e sem fonte de aporte financeiro e político.

Houve boas demonstrações de que o movimento é suprapartidário, desde o rápido incidente em Brasília com manifestantes vestidos com camisetas do PSOL - era proibido exibir bandeiras e símbolos partidários - até os cartazes improvisados, que pediam cassação tanto para os mensaleiros do PT quanto para os do DEM de Brasília e os do PSDB-MG.

DominioFeminino — guardamos seriiísmas reservas para acreditar que o PSOL, partido revolucionário e combativo tenha aceitado a proibição com essa brandura, sem que tenha sido instruído. Guarda a mesma desconfiança sobre qualquer movimento 'autônomo' e 'espontâneo' quando há total suporte e participação de políticos. E ao contrário do que afirma o colunista Merval Pereira, eles estavam lá em Brasília  e estarão no dia 20, no Rio de Janeiro.

O símbolo do mais recente escândalo do país, a deputada Jaqueline Roriz, absolvida por seus colegas de Câmara apesar de ter sido filmada recebendo propina, também se transformou em motivo central dos protestos em Brasília.

DominioFeminino — Curiosamente, segundo fartos relatos e ausência de cartazes durante as manifestações, nenhum nome dos 'corruptos' foi grafado pelos indignados autônomos.

Há uma grande manifestação marcada para o próximo dia 20, no Rio, com o apoio da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

DominioFeminino — As presenças da FIRJAN, tal como da OAB, ABI, CNBB e políticos   confirmam a impossibilidade da autonomia que querem nos fazer crer, tenha e esteja existindo nas passeatas.  Os interesses de todos estes não se coadunam com os interesses da população. Impossível que movimentos populares ocorram  com tanta velocidade de organização e gastos, sem a presença destas forças. 

O Supremo Tribunal Federal está na mira dos manifestantes, pois tem pela frente dois julgamentos fundamentais para a definição da luta contra a corrupção: o sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e o dos mensaleiros petistas.

O curioso é que a presidente Dilma, que deu início a esse combate à corrupção com ações enérgicas dentro de seu próprio Ministério, tenha ficado alheia a essa movimentação toda, tendo inclusive sido "protegida" das manifestações por barreiras até mesmo visuais.

Mesmo que tenha suspendido sua "faxina", por injunções políticas do esquema partidário que a levou à Presidência, Dilma agora já sabe que desencadeou um processo que dificilmente terá retrocesso. Talvez fosse mais inteligente reassumir seu comando.


O texto foi marcado pelo DominioFeminino, mesmo com  prejuízo da leitura poluída pelos grifos.


Um comentário:

DOMINIO FEMININO disse...

COMENTÁRIO de Adriana Falavigna.

O papel do advogado do diabo é complicado, não rende elogios nem alcança os RTs, mas vem trazer luz e discutir um assunto que só é analisado em um viés.

O que seria, de fato, uma manifestação espontânea e autônoma se transformou, rapidamente, em algo organizado, com legendas à frente, mesmo que oficialmente apartidário.

Ter uma data específica, pintar a cara ou estar de preto nos remetem a um passado não tão distante, aonde o comportamento aparentemente não teve grande variação - a inovação aqui são as mídias sociais.

Se tem ou não validade, bem, é outra questão, mas a assertiva de autonomia, liberdade, sem partido é mais questionável na medida em que já tem OAB, FIESP, CNBB, etc...

Já pintei a cara uma vez, e vi no que deu.
Adriana Falavigna

OBS.: Por problemas que desconhecemos leitora não consegue postar comentário o mandou via e-mai.